Créditos de Carbono – Índios suruí apostam no mercado de carbono para conservar sua terra em Roraima

Índios da etnia suruí, em Rondônia, começam a investir na venda de créditos de carbono. Eles utilizam a internet para divulgar o trabalho de preservação de sua reserva.

De qualquer parte do planeta é possível ver a terra indígena Sete de Setembro, que pertence ao povo suruí e fica na divisa entre Rondônia e Mato Grosso.
Técnicos do Google reproduziram no computador tudo que tem na floresta. Pela internet, o usuário pode fazer um tour pelas árvores e ver o que os suruís estão fazendo.

Enquanto caminha no meio da floresta, o índio carrega na mão um celular com sistema localizador GPS. Seis aparelhos foram doados no ano passado para o projeto. Com outra ferramenta, os índios da etnia suruí fazem o levantamento da biomassa.

“Avanço bastante nosso trabalho relativo à biomassa. A tecnologia está ajudando bastante ao trabalho relativo ao campo. A gente pensou que ia levar mais tempo”, diz Naraymi Suruí, coordenador do projeto.

Ao mostrar a floresta para o mundo os índios podem divulgar o que estão fazendo para conservar a área. Com isso, será possível vender créditos de carbono para financiar projetos sociais e ambientais nas aldeias.

Simplificadamente, o crédito de carbono é uma compensação em dinheiro paga por empresas de qualquer parte do mundo que emitem carbono na atmosfera para uma pessoa ou grupo de alguma forma conservar a natureza.

O Projeto Carbono Suruí utiliza duas formas de compensação: o seqüestro de carbono propriamente dito, por reflorestamento, e o desmatamento evitado e conservação de estoques de carbono através da redução do desmatamento e degradação florestal.

Os recursos recebidos vão para o Fundo Carbono Suruí. Técnicos do Idesam, o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, acompanham o processo.

“Eles aprenderam muito rápido. Pegaram muito rápido a forma de utilizar o aparelho”, explicou Heberton Barros, engenheiro florestal do Idesam.

O projeto começou a ser desenvolvido em 2007, com o reflorestamento. A criação do fundo indígena pode ser mais um passo para ajudar os suruís a conservar a região em que vivem.

Vejam o vídeo sobre a Tribo Suruí, no Youtube:

Indígenas protegem melhor as florestas

(Agora é que eles descobriram isso?)

Por Marwaan Macan-Markar, da IPS

Chiang Mai, Tailândia, 19/10/2007 – Os milhões de indígenas que vivem na Ásia e no Pacifico conseguem, finalmente, reconhecimento por seu vital papel na conservação das florestas naturais.

Esta mudança de imagem marcou o tom da conferência iniciada terça-feira e encerrada ontem na cidade tailandesa de Chiang Mai com a finalidade de delinear políticas de administração florestal nesta região para os próximos 20 anos. Defensores da causa das comunidades locais vêem com bons olhos esta mudança, pois para estas as florestas são sagradas e constituem o sinal central de sua identidade. “Os indígenas têm uma relação sagrada com as florestas. As sociedades devem trabalhar com eles na hora de fazer seus planos. Potencializar os indígenas é essencial para o manejo florestal”, disse Peter Walpole, diretor-executivo da rede de organizações não-governamentais Asia Forest Network, com sede nas Filipinas.

                                          “Para proteger as florestas é preciso começar tratando com os indígenas. Não se pode passar por cima deles, como sempre aconteceu. Estas comunidades estavam ali muito antes de as florestas serem declaradas áreas protegidas”,

 disse Walpole em uma entrevista. Se este enfoque prevalecer contribuirá para tirar da pobreza as comunidades aborígines.Muitos governos da região se negam a dar a cidadania aos indígenas, disseram pesquisadores que estudam as políticas florestais. Atualmente, há entre 210 milhões e 260 milhões de indígenas vivendo na Ásia e no Pacifico, segundo a Organização das Nações Unidas. Mas, somente a Índia abordou legalmente a situação destas comunidades. Em dezembro passado, Nova Délhi apresentou projetos de lei que abordam os problemas de comunidades que vivem no cinturão tribal do centro do subcontinente do sudeste da Ásia.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), anfitriã da reunião na Tailândia, a nova ênfase nas populações aborígines reflete uma ampliação da agenda global, sobre manejo das florestas e desmatamento.

“Há uma década, a elaboração de políticas estava guiada por um enfoque estreito e convencional. Mas isto deve mudar, devido à série de pressões sobre as florestas”, disse C. T. S. Nair, economista-chefe do departamento florestal da FAO. A necessidade desta resposta exaustiva requer que os políticos compreendam o vínculo entre os indígenas e as florestas onde vivem em seus termos mais amplos, disse Nair as IPS. “por um lado, queremos saber o que os países estão fazendo a respeito de seus povos originários. Mas, somente dar-lhes poder não é suficiente. Eles têm que se beneficiar com a mudança”, enfatizou. Nesse sentido a FAO está aprovando apelos para que sejam construídas instituições locais para apoiar os grupos indígenas. “Eles precisam de estruturas estáveis e confiáveis que os protejam da rápida mudança que impacta o setor florestal devido à globalização”, disse Nair.

A conferência desta semana reuniu 250 participantes de 39 países seu lema foi “O futuro das florestas na Ásia e no Pacifico, panorama para 2020”, quase uma década depois do primeiro estudo a respeito na Ásia-Pacifico, apresentado em 1998. O debate sobre a ampliação da agenda florestal esteve moldado pelos acontecimentos e debates que aconteceram desde então. As ameaças e novas pressões sobre as florestas vão desde o desmatamento e a degradação até à mudança climática, o comércio madeireiro em expansão e o turismo. Atualmente, a cobertura florestal do mundo é calculada em 3,9 bilhões de hectares, cerca de 30% do total de terras. A região Ásia-Pacífico concentra aproximadamente 700 milhões de hectares.

“Como os países manejam suas florestas se tornou uma preocupação internacional, devido ao amplo impacto do desmatamento e à degradação florestal sobre o clima e os recursos hídricos”, disse Jagmohan Maini, ex-coordenador do Fórum das Nações Unidas sobre Florestas, em seu discurso inaugural da conferência. Segundo Jan Heino, diretor da divisao florestal da FAO, o comércio de produtos florestais acompanhou o aumento do intercâmbio mercantil mundial nas últimas décadas. O valor do comércio global passou de quase US$ 2 bilhões em 1983 para US$ 10 bilhões em 2005, disse Heino, acrescentando que nesse mesmo período o comércio de produtos florestais cresceu de US$ 50 bilhões para US$ 260 bilhões. A demanda deixou uma gigantesca marca na cobertura florestal de todo o continente asiático.

A região Ásia-Pacifico “perdeu 10 milhões de hectares de florestas nos últimos 15 anos, em grande parte na campanha para abastecer a crescente demanda por produtos agrícolas e florestais”, alertou a FAO. “Há pouco tempo surgiram novas ameaças às florestas na campanha para desenvolver recursos bioenergéticos de cultivos, como a palma”, acrescentou a FAO. Mas, até agora, os testemunhos visuais de semelhante mudança e devastação foram deixados de lado devido ao seu fraco status econômico e à sua falta de poder como eleitores políticos. “As comunidades indígenas apenas foram deixadas mais pobres por causa da má qualidade das florestas. A enorme exploração dos recursos florestais teve impacto severo neles”, disse Walpole.

(Envolverde/ IPS)