ÁGUA DA CHUVA BENÉFICA PARA CIDADES

Engo. Agro. JOSÉ LUIZ VIANA DO COUTO
jviana@openlink.com.br

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Parece contra-senso dizer que água da chuva é benéfica para cidades, quando vemos ocorrerem tantas catástrofes causadas por temporais nestes tempos de aquecimento global. O artigo do Eng. Agrônomo Jeferson A. Lima, da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e auxs.: Potencial da economia de água potável pelo uso de água pluvial: análise de 40 cidades da Amazônia (revista Engenharia Sanitária e Ambiental | v.16 n.3 | jul/set 2011 | 291-298) prova o contrário.
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RESUMO
A escassez de água é um problema cada vez mais severo em todo o mundo devido a fatores como o consumo excessivo de água bruta, as mudanças climáticas, a poluição da água e o consumo insustentável dos recursos hídricos. Sob essas condições, formas tradicionais ou alternativas de recursos hídricos, tais como a água pluvial, estão sendo consideradas como opções atrativas para reduzir o consumo de água potável. Neste contexto, este artigo descreve o cenário de disponibilidade de água na região Amazônica, Noroeste do Brasil, e avalia o potencial da economia de água potável para o setor residencial em 40 cidades da região. Os resultados indicam que o potencial da economia de água potável varia entre 21 e 100%, dependendo da demanda de água potável verificada nas 40 cidades, com potencial médio de 76%. A principal conclusão desta pesquisa é que, se houvesse um programa do governo para promover a economia de água potável por meio da utilização da água pluvial, haveria significativa economia de água potável e, consequentemente, a preservação dos recursos hídricos na Amazônia.
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Outra aparente contradição: falar em economia de água na região com a maior bacia hidrográfica do mundo. Pois acredite que é verdade. Analisando dados de chuva da Amazônia Ocidental (porção do extremo Oeste, justamente onde foi feita a pesquisa), quando eu ainda lecionava Irrigação e Drenagem na UFRRJ, constatei a necessidade de irrigação (apenas durante 1 ou 2 meses), pelo Balanço Hídrico de Thornthwaite & Matter. E as secas nos rios da Amazônia que a imprensa noticia, estão aí para não deixar que digam que estamos mentindo.
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O colega Agrônomo começa dizendo que “O aproveitamento da água de chuva para consumo potável em residências (o grifo é nosso) é utilizado há anos em países como Austrália, Alemanha, Estados Unidos e Japão” (citando fontes). Observe que todos eles são países desenvolvidos. Digo isso porque aqui no patropi, torcemos o nariz quando se fala em beber água da chuva. E continua: “Estudos realizados nas residências desses países indicam que a economia de água é usualmente superior a 30%, dependendo de diversos fatores como demanda, área de telhado e precipitação”.
E olhe que nesses países não chove tanto como aqui. A média anual de chuva na Amazônia Ocidental (Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima) varia entre 1.400 a 2.600 mm/ano. Lembro que 1 mm = 1 litro por metro quadrado.
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METODOLOGIA
Para o cálculo do potencial de aproveitamento da água pluvial, o autor seguiu a metodologia de Ghisi et al. (2006), que necessita de dados de:
a) Precipitação média mensal;
b) População atendida por rede de água;
c) Consumo de água potável;
d) População da cidade;
e) Número de residências; e
f) Porcentagem de casas e apartamentos da cidade.
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Os dados de chuva foram obtidos na Agência Nacional de Águas – ANA; a população atendida pelo serviço de abastecimento de água, consta do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento – SNIS; o consumo de água potável pode ser informado pela empresa de saneamento ou a Prefeitura; a população da cidade é fornecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, bem como o número de pessoas por domicílio; e a % de casas e aptos. pode ser conseguida na Prefeitura.
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Me parece que o dado mais difícil de se obter é este último, além da área de telhados das residências. Mas nada que uma amostragem a partir de uma fotografia aérea, uma imagem de satélite ou o próprio Google Earth não resolva. No estudo acima, o autor utilizou a área de telhados adotada por GHISI e igual a 85 m2 para casas e 3,75 m2 por pessoa para apartamentos.
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RESULTADOS
Utilizando equações simples para calcular: a) o número de pessoas por domicílio; b) o número de domicílios abastecidos pelo serviço de água; c) a área total do telhado; d) o volume de chuva; e e) o potencial de economia de água potável, o autor achou que o número de pessoas por domicílio, nas 40 cidades, encontra-se entre 2,9 e 5,7 com média de 3,6 (abaixo da média da região Norte do Brasil, que é de 3,9 hab./resid., IBGE, 2007).
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A % média de casas e apartamentos para todas as cidades é de 98 e 2%, respectivamente. Manaus-AM, a mais populosa (~ 1,6 milhões habitantes) mostrou para esses índices: 90 e 10%.
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A área média do telhado por domicílio para as 40 cidades, foi de 83,7 m2, variando de 80 a 85 m2. Novamente a exceção foi Manaus com 77,4 m2.
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A média de consumo de água por cidade é de aprox. 102 L/hab.dia, variando de 48 a 213 (cidade de Cacoal, Rondônia).
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Quanto ao potencial de economia de água potável, que variou entre 21 e 100% (média de 76%), a cidade de Rorainópolis-RR foi a única que obteve o máximo para todos os meses do ano, enquanto Manacapuru-AM não obteve valores superiores a 35%. O consumo de água tratada para fins não-potáveis em residências no Brasil é usualmente inferior a 50% (Bressan; Martini, 2005). Cerca de 95% das cidades analisadas apresentaram potencial de economia de água superior a 50% (maior que o da Região Sudeste do Brasil, que fica entre 16 e 39%).
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O colega do artigo estudou 40 cidades de uma só vez. Você – se for do ramo – por que não estuda , pelo menos, a SUA ? Fica aqui a sugestão. A Natureza agradeceria.
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Na 1ª. Página de O Globo de hoje está estampado que “43% dos alunos ´alfabetizados´ não sabem ler”. Será que nós Ambientalistas e experts no assunto, pela nossa inércia, vamos continuar ignorando uma água pura que Deus nos manda do céu ?

Uma resposta

  1. Fantástico esse projeto.
    Há evidências arqueológicas de 4mil anos que provam que em Israel já utilizava métodos de aproveitamento da água da chuva.
    Hoje sabemos que muitos países também fazem essa reciclagem de água. E porque não o brasil? Afinal nós temos um alto índice pluviométrico.
    O que falta é informação. Na hora que as pessoas entenderem os benefícios que este sistema de captação de água proporciona, e que a água, com esse sistema passa por um processo de tratamento antes do consumo, as coisas podem mudar bastante!!
    Parabéns pela matéria!!!

    http://piscinasnaturaispe.wordpress.com/category/saude/

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